Para escutar o comentário veiculado no dia 20/12/2011 no programa Cultura na Mesa da rádio FM Cultura 107,7 clique aqui: http://www.baixa.la/arquivo/8452899
Trilha sonora do comentário: "Corsário" de João Bosco; fragmento da trilha sonora do filme "Piratas do Caribe".
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As histórias de piratas e corsários, singrando mares em busca de tesouros em terras distantes, povoam a nossa imaginação desde que somos pequenos. Milhares de livros, filmes e documentários abordam este tema fascinante e ao mesmo tempo fantástico.
Durante o período do Brasil Colônia foi frequente em nossas costas a presença destes temidos visitantes. Só que eles não eram figuras tão fabulosas, mas homens de carne e osso.
No primeiro século de ocupação do território brasileiro, as histórias sobre riquezas e maravilhas que chegavam na Europa, faziam com que muitos rumassem para o Novo Mundo. Eles também queriam uma fatia das riquezas da exploração colonial nas vastas terras recém descobertas.
A disputa por terras e mares se acirrou quando no final do século XVI Portugal uniu-se a Coroa Espanhola. A União Ibérica que durou de 1580 a 1860, tornou a Espanha uma potência controlando terras na América, na India e as rotas comerciais no Oriente.
A Inglaterra, por sua vez, era comandada por Elisabete I com sua política de expansão marítima. A rainha dava permissão ou era conivente com seus corsários, para que eles seguissem as rotas rumo ao novo mundo, atacando e saqueando as naus espanholas. Os corsários ingleses eram financiados pela coroa ou pelo capital privado.
É neste contexto que há 420 anos, na manhã de Natal, os habitantes da atual cidade de Santos, em São Paulo, foram surpreendidos pela chegada de invasores ingleses. O corsário, de origem nobre, Thomas Cavendish invadiu e pilhou a vila de Santos no dia 25 de dezembro de 1591, surpreendendo a população que estava assistindo a missa de Natal. Na igreja estavam trezentos homens que foram desarmados, além de mulheres e crianças. Os ingleses saquearam a vila e lá permaneceram dois meses.
Thomas Cavendish não era um pirata pois não vinha apenas com intenções de cometer saques e assassinatos. Cavendish era um corsário, pois agia sob as ordens e com a autorização de sua rainha. Suas ações eram fomentadas pelas disputas entre as potências inimigas. Embora tenha saqueado a vila de Santos ele deveria levar em sua volta para a Inglaterra parte do butim conquistado para a coroa.
Tomas Cavendish foi o terceiro homem a realizar a façanha de circunavegar o globo terrestre. Desta vez, o verdadeiro objetivo da viagem da Thomas Cavendish, era atravessar novamente o estreito de Magalhães. Nesta empreitada juntavam-se jovens de famílias nobres que desejavam fazer fortuna. Somente a estes jovens gentlemen era permitida a pilhagem de navios e cidades. Mas sua expedição foi um fracasso e ele teve de retornar para a Inglaterra. O corsário acabou morrendo no meio do caminho na ilha de Ascenção, no meio do oceano Atlantico. Aqui no Brasil, nos lugares por andaram os corsários de Thomas Cavendish, como em Ilhabela, os habitantes procuram até hoje um suposto tesouro enterrado.
Esta história foi relatada nas memórias de um dos homens que acompanhavam Thomas Cavendish, o também inglês Anthony Knivet. Suas memórias intituladas “As incríveis aventuras e estranhos infortúnios de Anthony Knivet” publicadas no Brasil pela editora Zahar, foram organizadas com notas e introdução da historiadora Sheila Moura Hue.
Numa narrativa autobiográfica Knivet conta seus dissabores na esquadra de Thomas Cavendish e os quase dez anos que permaneceu no Brasil ao ser abandonado na ilha de São Sebastião.
Nas memórias de Anthony Knivet podemos conhecer um pouco da vida e dos percalços daqueles homens que seguiam mar afora em busca de aventuras e fortuna em terras desconhecidas. Havia que ter muita habilidade para sobreviver aqueles primórdios da colonização do Brasil enfrentando os mais diferentes perigos em meio animais ferozes, plantas venenosas e índios hostis além de portugueses dispostos a acabar com os invasores de sua colônia.